Construção vive escassez e ‘guerra’ por mão de obra especializada

17/06/2024 | Engenharia, Notícias

Falta de trabalhadores qualificados vai de serventes e pedreiros a engenheiros;
empresas investem em cursos de formação e em novas tecnologias de edificação

A exemplo do que ocorreu há pouco mais de uma década, a escassez de mão de obra quali- ficada voltou a assombrar o setor de construção civil, que corre para entregar, no prazo, o grande volume de imóveis lançados nos últimos anos no País. A falta de profissionais atinge todas as funções, do servente de obra ao engenheiro, passando pelo pedreiro, azulejista, pintor e carpinteiro.

No “guerra” para atrair e reter trabalhadores, as construtoras registram aumento da folha de pagamento – que, em algum momento, é repassado para o custo dos imóveis. Neste ano, o dissídio da construção civil no Estado de São Paulo, por exemplo, teve o maior ganho real (acima da inflação) dos últimos 20 anos.

O índice, que historicamente tem girado em torno de 0,5%, pulou para 1,27%, segundo o sindicato dos trabalhadores no setor. Já o Índice Nacional da Construção Civil (INCC), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), acumula alta de 4% em 12 meses até maio, enquanto o custo da mão de obra subiu quase o dobro (7,51%).

Para atenuar o problema, construtoras, empreiteiras e sindicatos estão investindo em treinamento. Os cursos de formação incluem desde mulheres até imigrantes que queiram entrar nesse mercado de trabalho (mais informações na pág. B2).

Outra frente tem sido ampliar o uso de métodos industriais de construção, como madeira engenheirada, perfis de aço galvanizado (“steel frame”) e construção modular. Essas novas tecnologias reduzem a necessidade de trabalhadores, porque as estruturas pré-fabricadas na indústria são apenas montadas no canteiro de obra.

Segundo David Fratel, membro do Comitê de Tecnologia e Qualidade do Sinduscon-SP, o uso dessas tecnologias de construção aumentou 30% nas obras nos últimos cinco anos. “Aumentar salário não resolve o problema, o que resolve é aumentar a produtividade, reduzindo a dependência da mão de obra.”

Forte em empreendimentos comerciais e de logística na região metropolitana de São Paulo, a construtora Libercon tem recorrido ao “steel frame” e à madeira engenheirada em suas obras. A madeira engenheirada é uma técnica que cola as fibras em alguns sentidos, aumentando a capacidade estrutural da matéria-prima.

Atualmente, a empresa está usando essa técnica nas obras de ampliação do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, em uma área construída de 3.470 metros quadrados. Também na construção de um edifício de sete andares próximo à Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. “A falta de mão de obra está puxando para novas tecnologias, algumas não tão novas, mas que não tinham adesão pelo custo”, diz Hailton Liberatore, sócio-diretor da construtora. “O jogo começa a ficar mais equilibrado.”

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